Pedagogias do Coraçom
Começo de curso, povoaçom cigana, Jurjo Torres, José Heredia ... e outra gente de bem.
Tivem a sorte de participar esta fim de semana passada nas "XV Jornadas de ensinantes com povoaçom cigana". Estas jornadas reunirom em geral um ano mais a um grupo de pessoas que se algo tenhem em comúm na sua maioria é o contacto com um dos sectores da sociedade que mais sofrem a marginaçom como o é a etnia cigana. Mais a maiores também tenhem em comúm umhas ganhas enormes por trabalhar e impulsar um cámbio na situaçom dessa comunidade cigana, partindo da ideia de que umha sociedade intercultural é mais enriquecedora, igualitária e polo tanto fai mais feliz a todos e cada um dos seus membros.
Trata-se de pôr o dedo numha das feridas mais sangantes que estam a ter as sociedades occidentais:o racismo e a segregaçom de minorias . Ao mesmo tempo trata-se de analissar dum jeito global e crítico a sociedade que às portas do século XXI o permite. O novidosso destas jornadas fronte a outras às que tenho assistido é a revalorizaçom que se fixo nelas do papel que jogamos as pesoas que trabalhamos no ensino. Se nos últimos tempos o ambiente que se respira nos claustros é umha actitude maioritária de desencanto, possibilismo e mesmo deserçom ante a práctica educativa, o ambiente das jornadas respirava compromisso, entusiasmo e dignificaçom da profissom docente. À volta, resulta que do trabalho coa etnia cigana as primeiras beneficiadas parecem ser as pessoas palhas que realiçam essa labor em quanto a qualidade humana e profissional se refire.
Seria impossivel recolher num só artigo todo o que de bom recebim nestas jornadas tanto referido ao contacto humano como a informaçom e formaçom. Vou sinalar algumhas cousas que poidam explicar este meu entusiasmo, subxetivo por suposto, que pode levar a mais de umha pessoa letora deste pequeno espaço em A Nosa Terra, a crear-se um estereotipo anticipado da que escreve.
As jornadas forom abertas, eu nom desenvolvo o meu trabalho entre a povoaçom cigana mas puidem enriquecer-me igual das mesmas. Agora valoro que estas jornadas seriam igual beneficiossas para aquelas pessoas interesadas em dignificar a sua práctica educativa.
Dentro do que foi o grupo humano das jornadas creou-se um microcosmos do que deveria ser a sociedade na que vivimos. A actuaçom de profissionais ciganos como coordinadores de grupo ou participantes nos debates; a presência como ponente dum professor de instituto, poeta e dramaturgo e também cigano; a coordinaçom e trabalho em equipa que em todo momento practicarom as pessoas organizadoras do encontro, faziam que se mostra-se como umha realidade moi próxima, umha sociedade plural, igualitária e democrática, e poido asegurar-vos que resultava realmente agradável e enriquecedor viver por umhas horas nessa sociedade.
Em geral poido dizer que havia tempo que nom participava em nemgumha actividade relacionada coa profissom, onde as pessoas que presentavam ponências, o fixessem à vez com sinceiridade e entusiasmo, mesmo desde a emocióm e com umhas doses de humildade tam grandes.Puidem ver ao grande poeta e dramaturgo cigano José Heredia chorar recordando ao seu mestre, e ao decano da facultade de Humanidades da Corunha, Jurjo Torres, fazer umha exposiçom brilhante da sua análise da actualidade do sistema educativo como pedindo perdom por saber tanto.
Dum jeito natural apareciam nas intervençons a problemática e reivindicaçons doutros grupos sociais. Nom podia ser menos entre pessoas ocupadas em luitar contra umha das marginaçons e injustiças mais endémica da nossa sociedade como é a que se comete contra da etnia cigana. Dum jeito generosso falou-se das mulheres,da classe trabalhadora, das pessoas inmigrantes, da povoaçom marginada por motivos sociais e económicos em geral, da juventude e infancia, da terceira idade... de todos aqueles sectores sociais que tenhem muito que fazer fronte as agressons que se lançam contra deles desde umhas planificaçons e actuaçons políticas, económicas e sociais, baseadas nas leis do máximo beneficio capitalista. Umha proba mais da prática solidária e comúm que temos que desenvolver todos os grupos oprimidos para enterder também na marginaçom dos outros a nossa própria, e asegurar na nossa libertaçom a libertaçom da sociedade em geral.
A maiores de disfrutar da poesia de José Heredia Maya, que por si mesma bem valia umhas jornadas, tivem a oportunidade de presenciar como, pouco a pouco este profesor dum instituto de Granada, iba explicando como logrou, sendo cigano, escapar ao control social que lhe tinha reservado para el um destino de marginaçom e pobreza. As bágoas asulagarom a este home, já entrado nos 50, quando explicava a confiança que depositou nel o seu mestre, que convenceu à sua familia para que seguise estudando e que lhe deu a firmeça e valor necesário para aguantar as miradas que se cravavam nel quando na Universidade ressonava, no meio dumha lista de nomes, "José Herédia Maya"."Que confiem em ti é o que mais che obriga","eu vejo aos meus alunos e alunas, nom como um saco que se enche senom como um lume que se encende", forom algumhas das afirmaçons que, nom por sinxelas, deixarom impronta para reflexionar sobre a nossa práctica docente.
A Pedagogia do coraçom, a certeça de que estudar a etnia cigana é estudar-nos a nós mesmos e a energia que invirte em demostrar que os nenos e nenas ciganas necesitam tanto a comunidade escolar como esta os necesita a eles, forom algumhas das ideias que manejou José Eugenio Abajo Alcalde, professor da localidade castelhana de Alcántara e que com generosidade compartiu com nós os resultados da sua investigaçom sobre a escolarizaçom das crianças de etnia cigana. Um mestre confiado absolutamente em que desde as aulas nom se pode fazer todo para que desaparezam as injustiças e desigualdades sociais, mas si se pode fazer algo ou moito. As suas ideias sobre mensajes duplo -vinculares na práctica docente fam umha reflexom sobre a carga afectiva do feito educativo.
Jurjo Torres, decano da faculdade de Humanidades de A Corunha veu a situar a celebraçom das jornadas numha óptica global. Veu dar sentido ao porqué estavamos alí. A sua analise do contexto mundial no que se estam a desenvolver as reformas educativas, e as políticas às que obedecem de exclussom dos grupos desfavorecidos; a defessa da necessidade de politizar a prática educativa, impregnando a mesma de todas aquelas qüestions relacionadas coa justiça social; a denúncia das estratégias que por parte das forzas conservadoras se estam a aplicar para crear umha conciência de autoinculpaçom da realidade que vivem os sectores desfavorecidos da sociedade; a necessidade de que os mestres e mestras e demais sectores implicados, consigamos que o sistema educativo prepare pessoas capazes de fazer fronte às agressons e plans que por parte destas forzas conservadoras estan-se aplicando a nível mundial; a denúncia do racismo e do próprio concepto de raça como umha construcçom social a combater, e a denúncia asemade, da orige e papel que está a jogar o conhecimento e investigaçom científica, e a que interesses responde, forom algumhas das qüestons que, com humildade mas com firmeça, comunicou o autor do libro "O curriculum oculto", que nos devolve a esperança numha Universidade promotora de cámbios sociais.
Nom podia deixar de fazer referência a umha experiência que apresentou umha equipa de mulheres mestras e trabalhadoras sociais da asociaçom "Chavós" de Ferrol, que desenvolverom um curso de nutriçom para mulheres ciganas.Mas umha vez o trabalho em equipo, a satisfacçom polos objectivos acadados e umhas images e testimonios que tocavam e faziam vibrar as nossas fibras mais ocultas.
A aterragem na realidade depois de viver neste microcosmos plural, democrático e igualitário nom puido ser mais cru. Ao interessar-me polas praças do colegio Chaborré Calé que deveriam ser cubertas antes de que comeza-se o curso escolar, e que na actualidade so conta com umha mestra nomeada, na delegaçom entero-me que ainda nom sabem que vam fazer, se cubrilas com interinas, provisionais ou quem sabe que. Os nenos e nenas ciganos começaram o curso mais tarde ou sem o apoio que lhes corresponde. Aos que saem de últimos na "carreira", ainda por riba botamos-lhes chinchetas, nom vaia ser que se lancem e algum como Heredia chegue á meta.
Mas nem a apisonadora da burocrácia bem dirigida da Administraçom, nem a constataçom na prática do esforço que vai resultar necessário para conseguir um cámbio real nesta sociedade excluinte, vam conseguir borrar o alento e o ánimo que como trabalhadora do ensino derom-me estas "XV Jornadas de ensinantes com povoaçom cigana". Intentarei confiar, aplicar pedagogias do coraçom, impregnar de justiça social a minha práctica educativa..., porque falar de opressom e marginaçom é falar de etnia cigana, pero tambem de mulheres, de classe trabalhadora, de povos oprimidos... e que cada quem busque o seu lugar neste carro que, como di o poeta Heredia, "conocedor perfecto del horizonte que horadaba" busca as rutas da liberdade.
05-09-1995
Lupe Ces
Publicado no periódico galego semanal "A Nosa Terra"
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quarta-feira, 6 de setembro de 1995
Pedagogias do Coraçom
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