quarta-feira, 24 de setembro de 1997

Repressom - Setembro de 1997

Repressom

Estuda na Escola de Canteiros de Sam Joam de Poio, "ainda que tamém há canteiras". Até o ano passado sempre vivira em Ourense, polo que essa pequena vila onde aterrou no curso 96-97, era todo novidade para el. " Vivia numha pensiom onde havia todo tipo de gente, o mesmo que na escola, mas como soe passar quando vas estudar fóra, tês que fazer amizades e ir situando-te pouco a pouco". A polizia comezou a actuar com rapidez. Falou com o dono do bar onde parava sempre, com pais de rapazes cos que se relacionava..., informamdo-lhes da perigossidade da sua militáncia em AMI. " Coa dona da pensiom foi o pior. Nom sei que demo lhe falarom que me dixo que nom podia voltar por alí o próximo curso. E em Poio é a única pensiom que há, polo que tenho que ir viver a Ponte-Vedra. Tamém sei que entrarom no meu quarto para registra--lo".
Em Ourense é um rapaz moi conhecido. Marcos Ferradás agora tem 21 anos, mas foi aos 14 que comezou a sua viagem polo independentismo. " Sim, no coleitivo Meendinho. Por isso sempre estava afeito a estar entre muita gente. Quando te vês assim só, num sitio onde nom te conhezem, e a polizia presionando a umhas pessoas que nom sabem nada de ti, das tuas ideias, do teu jeito de ser, das tuas relaçons..., fam-te sentir mal, cumha grande impotência. Naqueles momentos sentim muito em falha a casa, as amizades de sempre. Sentim morrinha de Ourense. Sim, sofres muito. Alí nom houvesse sido igual".

Nom pode evitar sorrir quando lembra à dona da pensiom coa folha do Faro de Vigo, onde aparez el numha rolda de imprensa com titulares de "Euskadi Conexiom". " Mira, mira o que dim del na imprensa- dizia-lhe a senhora a outro mozo da fonda. A verdade é que nunca pensavamos que um simples auto-colante fosse desatar tanta tempestade. Foi um autocolante-bomba o de Diz Goebles", e pom os olhos coma olhando para aqueles dias, sorrindo, ainda incrédulo de que todo aquilo passasse na realidade.

Entre os mais de cem insubmissos na Galiza está Alexandre Pérez Fernández. Ainda que foi julgado e condeado no mês de maio, a 2 anos 4meses e um dia de prissom, foi no ano 94 quando se fisso insubmisso. " Som estudante e tinha pensado esgotar todas as prórrogas. Eu já me tinha decantado pola Insubmissom. Mas recém cumpridos os 21 anos enviarom-me umha carta do Ministério Espanhol de Defensa, para que me incorporasse a filas numha semana. Quando me equivoquei cubrindo umha solicitude de bolsa para estudos, chamárom-me e puidem retificar. Quando me equivoco solicitando a prórroga cum ano de antelaçom, avisam-me umha semana antes para incorporar-me". Em sete dias tem que decidir o que el pensava tomar com muita mais calma.

" Ser insubmisso numha cidade coma Ferrol nom é o mesmo que se-lo em Compostela ou em Vigo. Lembras-te de quando o alcalde dixo públicamente que nom se retirava a estatua de Franco porque havia pressons dos militares? Eu mesmo na minha familia tenho gente que está no Exército, como a maioria da cidade. A presença e influência sinte-se a diário". Os medos e a pressom nom faltarom nesses sete dias, mas tampouco ao longo detes tres anos. " Nom vas poder fazer esto, nem aquilo... a familia preocupa-se. Passas-te horas discutindo e aclarando o que para ti é obvio e justo. Mas o que me indignou foi que desde a mesma oficina de reclutamento do Concelho, quando me chamarom para lembrar-me que ao dia seguinte tinha que apresentar-me no quartel, intentaram convencer-me ponhendo-me medo com todo o que me ia passar. Esse colaboracionismo cego".

O dia do julgamento nom faltarom apoios familiares, de amizades e políticos. "Som de Galiza Nova e nom tivem que recorrer a advogados de oficio" Ainda cos apoios, afrontar um julgamento com 21 anos nom é prato de bo gosto. Acudir a outras vistas, conhezer a actitude do juiz, reconhece que lhe foi moi útil. " Todos os dias há algo que che lembra que tês umha espada pendurada enriba tua. Sei que podo ir ao cárcere. O PP acelerou os trámites para os julgamentos. Está endurecendo-se com todo o mundo. Os insubmissos neste caso nom imos sofrer discriminaços. Imos ser reprimidos como o resto."

"Amolou-me que tivesse que passar em tempo de exames". Roberto Reigossa, de 20 anos de idade vive perto de Mondonhedo e há uns dias comparecia acompanhado polo seu pai e à sua nai a umha vista oral por desordes públicos e resistência à autoridade. " Só estavamos colando uns cartaces em Compostela, que é onde eu estudo. A polizia liou-no todo". Quando chegarom à sua casa, intentavam mostrar solidariedade co seu pai. Um home muito conhecido e respeitado polo seu trabalho no concelho. "Apresentam-no coma umha desgracia para a familia, ter um filho independentista. Alí no meio do monte onde vivo eu, se nom tês apoios na casa, quedas numha situaçom muito difícil. Cargarom-me o 25 de Julho. Negarom-se a achegar-me até o auto-carro. Eu alí estou muito ailhado e o que mais te queima é estar longe dos demáis".

Nas vilas e parroquias pequenas, o feito de que vaia a Guardia Civil a umha casa marca muito. A gente conhecesse toda. Mas às vezes só basta com que se visite a taberna. É o centro social por excelência. Um uniformado comenta no bar que " o rapaz é bo, mas anda em mas companhias...", " avisa ao teu filho que nom ande com esse rapaz", e toda a parroquia queda enteirada. No caso de Rosa Vasques forom mais direitos. A sua nai tem um negócio e forom-lhe alí a informar-lhe que tivesse coidado coa sua filha, que estava "sendo seguida". " A minha nai estava furiossa e mais asustada. Eu já notava há um tempo como pessoas de paisano desconhecidas para mim, seguiam-me às vezes. Um amigo meu, menor de idade, que foi levado a comisaria polo seu pai, dixo-me que lhe ensinaram fotografias minhas. Foi o que me decidiu a ponher a denúncia diante do juiz. Nom pode ser que pola nossa actividade independentista fagam contra nós esta pressom. Fam-te sentir mal, como se estivesses fazendo algo indigno ou que tês que ocultar."

Mariano Abalo já nom é novo. Leva toda a vida no nacionalismo, e já anos militando na FPG e como concelheiro em Cangas. Dos sucessos que se desenvolverom nesta vila no ano 89, el junto a três pessoas mais, tenhem que fazer frente a umha orde de embargo de case dous milhons e meio de pesetas. "Já me embargarom três mensualidades da minha nómina de Correios. E este mês tamém me descontarom 70.000 ptas por aplicaçom da Lei de Seguridade Cidadám. Tenho mais dumha duzia de espedentes abertos por esta causa. Há outros companheiros que estám pior. Mesmo tenhem presionado à direcçom da empresa onde trabalham, ainda que polo momento sem resultado. Manolo Caamanho tem umha orde de embargo de 11.300.000 ptas por via guvernativa, ainda que tem as mesmas acusaçons tamém por via judicial . Todo derivado da sua actividade sindical na luita dos marinheiros do Morrazo."

Co chamado "espiritu de Ermua" e utilizando a solidariedade que sempre amosou públicamente Mariano co movimento abertxale, o PP intentou forzar a sua expulssom da coaliçom que governa hoje o concelho de Cangas. " A tenssom foi moi forte esses dias. Eu sempre recevim ameaças de todo tipo, sobradamente por telefone, mas esses dias estavam doentes por fazer-me saber que me íam matar. Eu vivo co meu pai e a minha nai que padeze umha enfermidade grave. Isso amolache, mais nom vou deixar de fazer o que fago e que considero justo. Máximo quando vês quem está baixo as siglas do PP, antigos falangistas, gente que assassinou e encarcerou à mitade de Cangas... Nom se pode entender esta vila, nem os processos que se dam aqui sem conhezer a história mais recente, o que sucedeu aqui no 36". Reconheze Mariano a falta de tempo e capacidade para afrontar toda esta pressom. " Esta-se organizando umha campanha de solidariedade para fazer umha recolhida de cartos a nivel popular, tamém um festival... mas há tanto que fazer, estás em tantas cousas e tantos problemas!".

No semanário nacionalista A Nossa Terra, numha das suas contraportadas, informávasse da presência e pressom da Guardia Civil no concelho de Vilaboa. A luita contra da empacadora levou à vicinhança, maioritáriamente votante do PP, a um enfrentamento total contra deste partido e máximo contra os seus dirigentes Cuinha e Parada. " Estamos tranquilos, eles já perderom os papeis quando digerom que nos íam meter a empacadora por colhons. Nós respostamos que a nossa oposiçom à empacadora nom era por sexo, senom por seso". Manuel Guedes, membro da Coordinadora Vicinhal, mira com ilussom todo o que se fai em Vilaboa. Pensa que paga a pena porque nelo está o futuro de todas as parroquias do concelho. " Temos ao redor de 300 multas pendentes, de entre 150.000 e um milhom de pesetas. Da nossa parte há feridos e mesmo umha vizinha resultou com lessons de gravidade. Já vês, nom somos bem recevidos nos actos do PP. Mas ainda pior que a dor física é a raiba e a impotência. Saber que tês a raçom e que che imponham pola força esta animalada! A zona está fortemente vigiada. Toda esta presência dos guardias tem uns costes grandíssimos. A ironia é que o pagamos nós, cos nossos impostos. Como se podem malgastar assim os cartos dos galegos? Esta presência é cruel, é case um estado de sitio. Mas em Vilaboa todo o mundo sabe que esta luita imo-la ganhar"." Nom à empacadora", " Nom votes fascismo, nom votes PP",da unidade e firmeça da vizinhança dam fe as faixas que decoram cada leira, entre as leitugas, entre o milho..." Nom à empacadora", " Nom votes fascismo, nom votes PP". " Nós temos a nossa unidade, e o seguro do monte comunal. Imos fazer todo o que faga falta. Estamos preparados."

Luitas vizinhais, sindicais, insubmisos,estudantes, independentistas... Fam-te sentir só. Que penses que só che ocorre a ti, mesmo que só tem problemas quem os busca. Mas a realidade é que na Galiza tem problemas quem se move para defender o que é seu, quem exige os seus direitos, quem nom participa do poder establecido...Cumpre agora reforçar os fios da solidariedade, da resposta social frente à repressom. Porque cada problema, somado aos outros problemas, cada agressom somada às outras agressons, conformam a sintomatologia dum povo que pretendem afogar e luita por sobreviver.

Lupe Cês
24 de Setembro de 1997


Publicado no periódico "A Gralha"
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terça-feira, 2 de setembro de 1997

Um Mundo com rumo à Solidariedade

Ignácio Ramonet naceu em 1943 em Redondela, é especialista em geopolítica e estratégia internacional. Dirige em Paris o mensual "Le Monde diplomatique". Mas se o traemos até as páginas de A Gralha nom é pola sua condiçom de galego emigrado. É porque hoje está considerado como umha das poucas pessoas que se adicam, desde umha actitude crítica, progressista, ao estudo dos cámbios que acontecem no mundo.

Na actualidade há poucos intelectuais que tenham umha vissom global da realidade. Em EEUU está Chomsky; em Francia Bordieu; em Alemánia Habernas; Ricardo Petrella ... Ramonet trascende o seu papel de jornalista para apontar as pinceladas deste fim de século. As tres revoluçons - tecnológica, económica e sociológica- estám fazendo cambiar a realidade a umha velocidade pouco asimilável pola gente de a pé.

O pensamento marxista como filosofia política tardou case um século em conformar-se como resposta ao capitalismo emergente desde o século XVIII. Ramonet acredita que a resposta à nova revoluçom capitalista, o neo-liberalismo, tardará em surgir, como resposta global, quando menos esse tempo.

"Um mundo sem rumo", na editorial espanhola - Temas para debate-, é o último livro deste galego onde se fai umha análise bastante completa, e sobretodo, moi asequível , da situaçom mundial. Este galego autor do término pensamento único asegura que a realidade do planeta está no Sur, onde vivem 5.000 dos 6.000 milhons de pessoas que habitam a Terra. De certo é aí onde se estám a dar os movimentos mais novidossos que podem aportar um cámbio real, como o Movimento dos Sem Terra -MST- em Brasil, o Banco dos pobres em Bangladesh ou a luita do EZLN em México. Em relaçom ao movimento zapatista, Ramonet sinala algumhas caracteristicas que marcam um ponto de inflexom ao respecto dos movimentos actuantes na década dos oitenta. Por umha banda a utilizaçom da violência como defesa e nom como jeito de acadar o poder (como entende o pensamento militar, que pensa que o poder é o núcleo de todo). Hoje as sociedades som muito mais complejas e existem muitos poderes. O zapatismo está muito arraigado localmente na defesa de cultura, língua, tradiçons... mas ao tempo fai-se universal ao dialogar coa sociedade civil, articular pontos de apoio e conexom com outras luitas a niveis internacionais, utilizando meios de comunicaçom modernos e umha linguage política que rompe co dogmatismo e o sectarismo das esquerdas actuantes até agora.

Ricardo Petrella, asegura que na actualidade há 800 milhons de pessoas no mundo combatendo as lacras do neo-liberalismo. Pessoas que estám aportando alternativas, respostas, jeitos de luita... mas o movimento de resistência, com ser importante, adoece dumha articulaçom global.

Na Galiza, os Comités de Solidariedade (COSAL) , apostados nas cidades de Ourense, Compostela, A Corunha, Ferrol, Vigo e na comarca da Costa da Morte, esforzam-se por achegar-nos ao país a realidade doutras luitas, e essa vissom globalizadora tam precisa no contexto actual. A sua revista número 10, Outrasvozes, abre-nos a janela da luita zapatista, da realidade argelina, dos cárceres venezolanos, da luita em Euskadi e Irlanda... e adica o seu dossier ao povo romani (cigano), um povo invisível.

A cultura tradicional de esquerdas, sobre todo a mais radical, sempre despreçou este tipo de actividade político-solidária por considerar que estes movimentos estavam compostos por pessoas que em definitiva, eludiam compromisos coa realidade do seu próprio país para toma-los com outros povos e outras luitas que na distáncia faziam-se mais asimiláveis. Em definitiva, defendiam-se as metralhetas nicaraguanas ou palestinas e deixava-se o silenço como resposta à solidariedade com outras luitas. Hoje a prática dos movimentos de solidariedade, e sobre todo umha nova concepçom de que a transformaçom social vai vir da soma de muitas luitas, cos seus distintos enfoques, alternativas e sectores sociais representados, fai que estas afirmaçons quedem trasnuitadas.

02-09-1997
Lupe Cês

Publicadao no periódico "A Gralha" [Meendinho Edicions - 1994]
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