terça-feira, 2 de setembro de 1997

Um Mundo com rumo à Solidariedade

Ignácio Ramonet naceu em 1943 em Redondela, é especialista em geopolítica e estratégia internacional. Dirige em Paris o mensual "Le Monde diplomatique". Mas se o traemos até as páginas de A Gralha nom é pola sua condiçom de galego emigrado. É porque hoje está considerado como umha das poucas pessoas que se adicam, desde umha actitude crítica, progressista, ao estudo dos cámbios que acontecem no mundo.

Na actualidade há poucos intelectuais que tenham umha vissom global da realidade. Em EEUU está Chomsky; em Francia Bordieu; em Alemánia Habernas; Ricardo Petrella ... Ramonet trascende o seu papel de jornalista para apontar as pinceladas deste fim de século. As tres revoluçons - tecnológica, económica e sociológica- estám fazendo cambiar a realidade a umha velocidade pouco asimilável pola gente de a pé.

O pensamento marxista como filosofia política tardou case um século em conformar-se como resposta ao capitalismo emergente desde o século XVIII. Ramonet acredita que a resposta à nova revoluçom capitalista, o neo-liberalismo, tardará em surgir, como resposta global, quando menos esse tempo.

"Um mundo sem rumo", na editorial espanhola - Temas para debate-, é o último livro deste galego onde se fai umha análise bastante completa, e sobretodo, moi asequível , da situaçom mundial. Este galego autor do término pensamento único asegura que a realidade do planeta está no Sur, onde vivem 5.000 dos 6.000 milhons de pessoas que habitam a Terra. De certo é aí onde se estám a dar os movimentos mais novidossos que podem aportar um cámbio real, como o Movimento dos Sem Terra -MST- em Brasil, o Banco dos pobres em Bangladesh ou a luita do EZLN em México. Em relaçom ao movimento zapatista, Ramonet sinala algumhas caracteristicas que marcam um ponto de inflexom ao respecto dos movimentos actuantes na década dos oitenta. Por umha banda a utilizaçom da violência como defesa e nom como jeito de acadar o poder (como entende o pensamento militar, que pensa que o poder é o núcleo de todo). Hoje as sociedades som muito mais complejas e existem muitos poderes. O zapatismo está muito arraigado localmente na defesa de cultura, língua, tradiçons... mas ao tempo fai-se universal ao dialogar coa sociedade civil, articular pontos de apoio e conexom com outras luitas a niveis internacionais, utilizando meios de comunicaçom modernos e umha linguage política que rompe co dogmatismo e o sectarismo das esquerdas actuantes até agora.

Ricardo Petrella, asegura que na actualidade há 800 milhons de pessoas no mundo combatendo as lacras do neo-liberalismo. Pessoas que estám aportando alternativas, respostas, jeitos de luita... mas o movimento de resistência, com ser importante, adoece dumha articulaçom global.

Na Galiza, os Comités de Solidariedade (COSAL) , apostados nas cidades de Ourense, Compostela, A Corunha, Ferrol, Vigo e na comarca da Costa da Morte, esforzam-se por achegar-nos ao país a realidade doutras luitas, e essa vissom globalizadora tam precisa no contexto actual. A sua revista número 10, Outrasvozes, abre-nos a janela da luita zapatista, da realidade argelina, dos cárceres venezolanos, da luita em Euskadi e Irlanda... e adica o seu dossier ao povo romani (cigano), um povo invisível.

A cultura tradicional de esquerdas, sobre todo a mais radical, sempre despreçou este tipo de actividade político-solidária por considerar que estes movimentos estavam compostos por pessoas que em definitiva, eludiam compromisos coa realidade do seu próprio país para toma-los com outros povos e outras luitas que na distáncia faziam-se mais asimiláveis. Em definitiva, defendiam-se as metralhetas nicaraguanas ou palestinas e deixava-se o silenço como resposta à solidariedade com outras luitas. Hoje a prática dos movimentos de solidariedade, e sobre todo umha nova concepçom de que a transformaçom social vai vir da soma de muitas luitas, cos seus distintos enfoques, alternativas e sectores sociais representados, fai que estas afirmaçons quedem trasnuitadas.

02-09-1997
Lupe Cês

Publicadao no periódico "A Gralha" [Meendinho Edicions - 1994]
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