segunda-feira, 14 de julho de 1997

Cada quem que chore as suas mortes - Julho do 1997

CADA QUEM QUE CHORE AS SUAS MORTES

Escrevo esta pequena reflexom baixo o medo. O medo que me produzírom os feitos mediáticos ocorridos estes últimos dias. Já antes, é verdade, tinha lido que a Guerra de Bósnia fora preparada e mesmo induzida utilizando a televisom. Algo semelhante ocorreu coa Guerra do Golfo. Foi muita a gente que mobilizou a televisom e a rádio nestes dias. Muita a gente que seguiu minuto a minuto o trágico desenlace do seqüestro realizado por ETA. Muita a gente que mesmo chorou nas suas casas e berrou "hijos de puta" coa maior das fúrias sentidas nunca. Nem umha soa voz discordante, nem umha soa voz crítica se filtrou nos meios de comunicaçom.

Para a imensa maioria os nomes de Rosa Zarra ou de Josu Zabala nom dim muito. Eu nome-os aqui por pôr algum dos nomes mais recentes na lista de mortes do outro bando. A maioria desconhece a realidade de Euskadi. Quantos presos e presas há? Quantos deportados? Qual é a última pessoa que morreu num interrogatório? Por quê se inventárom os grupos Y e quem o fixo? Por quê Portugal e Bélgica nom concedêrom as extradiçons? Que propom ETA para rematar coa violência na Alternativa Democrática?... Moi pouca gente saberá respostar a estas preguntas. Mas nom importará, ao fim som uns "apestados" aos que há que excluir da sociedade. Muita gente é manipulável e outra claramente opositora a todo movimento que proponha umha mudança. Por isso nom me vou dirigir a ela. Aí está e sempre estivo.

Quero dedicar a minha reflexom a todas aquelas pessoas que si conhecem o conflito vasco. A todas aquelas pessoas que com responsabilidades políticas e sociais nom alçárom a sua voz para nom chegar a este ponto sem retorno. Precisamente nom é o ponto sem retorno para a fim de ETA, é o ponto sem retorno para aprofundar mais nas feridas abertas do Povo Basco e nom permitir que cicatrizem. Depois dum ano de greves de fame, de mobilizaçons multitudinárias e mesmo unitárias polo translado das quase seiscentas pessoas presas; depois de pronunciamentos da Comissom de Direitos Humanos do Parlamento Basco, para que se cumprisse a legalidade vigente em matéria penitenciária; depois da fim dos dous seqüestros, o Governo espanhol, a pesar da solicitude de partidos como PNV e IU, nom move nem um milímetro a sua postura. Nom querem negociar, nom querem dialogar, querem umha rendiçom sem condiçons, numha luita histórica, na que, nesta última etapa, desde os anos sessenta, levam participado dum jeito ou doutro, vários centos de milhares de pessoas. Esta realidade é conhecida por muita gente com responsabilidades neste País nosso. Algúns já levam tempo desejando essa rendiçom, com humilhaçom , a poder ser, incluída. Outra gente, conhecedora dessa realidade, pensa que se se posicionam polo diálogo e a negociaçom vai ser esmagada pola apisoadora dos meios de comunicaçom. Ademais está o argumento de que se fai polo interesse do País.

Algumhas pessoas que coma mim temos votado Herri Batasuna nas eleiçons ao Parlamento Europeu, temos reconhecido publicamente o nosso erro, na medida que vulnerava o principio de "Forças políticas própias". Isso nom saca de que alcemos a nossa voz no meio deste deserto monocorde para apontar outra série de saídas ao conflicto que nom beneficiem exclusivamente a umha das partes. Sobretodo se a parte beneficiada é um estado que resulta ser o causante dos males do nosso País. É por isso que nom alcanço a entender a postura do BNG totalmente pregado às directrices desenhadas desde o Ministério do Interior.

A verdade é que havia que actuar com rapidez. Ter muita lucidez e aproveitar todo o espaço disponível, tanto social como nos meios de comunicaçom, para, antes de se consolidar este fenómeno mediático, alçar umha voz diferenciada. Umha voz que tivesse como verdadeiro obxectivo salvar a vida da pessoa seqüestrada e nom, ganhar umha batalha mais na luita antiterrorista. Nesse senso só os bispos bascos e a organizaçom pacifista Elkarri oferecêrom-se como mediadores. Por quê o BNG nom se ofereceu a cumprir com esse papel? Por quê nom se começárom contactos diplomáticos para constituir junto do Governo portugués umha comissom peninsular que mediasse no conflito? Claro, havía que actuar com rapidez e ter a suficiente clarividência como para constatar que umha alineaçom coas teses e as mobilizaçons dirigidas desde o estado, supunha nom já a condena da pessoa seqüestrada, senom o afortalecimento da idea de estado. "Por la libertad, la unidad y la paz". Essa alineaçom coas forças chamadas democráticas vai traer uns custos políticos e humanos gravíssimos.

Em primeiro lugar, nom vai rematar co problema da violência em Euskadi. Vai-no agudizar. Já se começa a falar da aplicaçom de novas leis. O estado de excepçom poderia ser algumha delas ou as leis repressivas contra da mocidade. Nom em balde o Mossad, é um dos assessores em matéria de seguridade interior e a Intifada ensinou-lhes muito.Quedaria por valorar o estado de enfrentamento civil que se alimentou ao abeiro das mobilizaçons. Em segundo lugar, o estado pode aplicar essas leis e mesmo toda a sua política repressiva no nosso País. Deste jeito é doado criminalizar qualquer oposiçom.
Nom se salvou a vida do membro da Ejecutiva do PP em Vitória. Nom se vai salvar a vida das seguintes pessoas que caiam vitimas do conflito nos dous bandos. A responsabilidade de quem, desde os meios de comunicaçom, pudo canalizar toda a energia humana cara umha soluçom dialogada do conflito, e nom o fijo, é grande. Note-se que estou deixando a um lado a responsabilidade das duas partes enfrentadas. Mas tamém é clara a responsabilidade daquelas pessoas e organizaçons que escolhêrom o caminho fácil de apoiar ao poder na vez de apostar forte polo dialogo. A partir de agora, e visto que se aposta polo enfrontamento, que cada quem chore as suas mortes.

Lupe Ces 14-7-97
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