sábado, 21 de fevereiro de 1998

... Mulheres assassinadas ... A ponta dum grande iceberg

Segundo dados do Ministério do Interior e do Instituto da Mulher espanhol, na Galiza morrérom no ano 97 ..... mulheres a maos dos seus companheiros e homes. Esta ponta corresponde-se cum grande iceberg que arrastra um saldo de miles de mulheres que cada dia sofrem a violência de género.

Na Galiza, segundo essas mesmas fontes passou-se de 760 denúncias por maos tratos no ano 89, a 928 no ano 96. Esta variaçom nom é muito significativa se se tem em conta que só representa ao redor dum 10% das agressons reais. Se nos fiamos da mesma fonte (Instituto da Mulher), o 51% das mulheres que convivem em parelha cum home, sofrem algúm tipo de maltrato físico ou psíquico.

A violência dos homes contra das mulheres, a violência de género, nom é umha realidade de agora, ainda que na sociedade mediática na que vivemos, nom existe nada que nom saia na televisom. E nos últimos meses, a raíz da apariçom, num programa de Canal Sur, dumha mulher relatando o inferno no que levava vivendo case 40 anos, e que posteriormente foi brutalmente assassinada polo home com o que um juiz obrigou-na, depois de repetidas denúncias, a compartir vivenda, a violência de género já existe!

Reconhecer a existência da violência sexista é como abrir a "Caixa de Pandora". Desde os poderes públicos vem-se na obriga de dar resposta a umha realidade que estava aí, mas que nunca interesou a ninguém, a nom ser às feministas. Mesmo Alvarez Cascos, há moi poucas semanas, asegurava que se tratava de feitos isolados fruto de mentes enfermas.

Dizemos que mentar, mesmo reflexionar sobre a violência de género nos meios de comunicaçom ou nos parlamentos, está traendo a mais de um de cabeça. Já se empezam a escoitar vozes que recomendam nom airear muito este tema porque a publicaçom continuada de informaçons sobre este tipo de actos pode produzir um "efecto mimético".

O ministro espanhol de Trabalho e Asuntos Sociais, Javier Arenas, assinava há uns dias um convénio de colaboraçom com o Conselho Geral do Poder Judicial para umhas jornadas sobre este tema, e o presidente do CGPJ, asegura que está elaborando umhas conclussons dumhas jornadas celebradas em Dezembro, para formular umhas "sugerências". Estám pilhados. Este tema é como umha pataca quente. Um pouco que se aprofundice nel e saltam em mil anacos todo o corpo legislativo, a política judicial, a política social, económica e educativa de qualquer governo.

Javier Arenas fai chamados constantes a que as mulheres denúnciem os maos tratos, e as mulheres vam e se lhe morrem assassinadas logo de repetidas denúncias! O CGPJ anda em jornadas, reflexons e sugerências, e as mulheres vam e se lhes morrem assassinadas baixo umhas sentenças que as obriga a permanecer perto dos seus agressores! E nom pidem papas. Agora pretendem respostar às grandes mobilizaçons do mês de Março aprovando um pacote de medidas que nom só nom ponhem o dedo nas causas da violência, senom que nem sequera recolhem aquelas medidas imediatas que as organizaçons de mulheres venhem reclamando ao longo dos anos.
As casas de acolhida som, entre outras cousas, o dedo acusador que indica que as agressons às mulheres som o único delito polo que a primeira que paga é a vítima e o seu entorno familiar. A figura do afastamento nom se aplica e como se já nom fosse pouco aturar os maos tratos físicos e psíquicos, as mulheres ham de colher o pouco que podam levar, em muitas ocassons o posto (mais "cargas familiares"), e buscar acobilho alí onde lhe podam dar a protecçom que nem na sua própria casa, nem no trabalho, nem na rua tenhem.

As organizaçons de mulheres e feministas um ano mais, ocuparám as ruas reivindicando e denunciando sobre este tema. Um tema sobre o que case todo o mundo tem esperiência, as mulheres como vítimas, muitos homes como maltratadores, como cómplices ou observadores sem implicaçom. Mas um tema ampliamente desconhecido para a maioria, nas suas raizes e causas, e mesmo nas suaa distintas manifestaçons. Umha prova de-lo é a cantidade de tópicos que circulam entre a gente mais nova (a gente nom tam nova já o viveu assim de "natural") e que nos fam pensar que as cousas nesse aspecto nom variárom tanto como se pensa. Mesmo a cantidade de agressons e actitudes violentas dos moços diante das moças segue a ser moeda em circulaçom.

Um dos tópicos mais difíceis de desmontar é o que asume que a mulher que tem independência económica sofre maos tratos porque quer, por simples "masoquismo". O terror existe, e funciona. E por se fosse pouco ter que sobre-por-se ao medo, nom há lugar seguro para a mulher agredida. As forças de orde, o Sr. Diz Guedes e demais responsáveis da seguridade, andam demasiado ocupados controlando, listando e reprimindo as mobilizaçons e movimentos sociais. Nom tenhem tempo de asegurar os direitos fundamentais das mulheres, mesmo se se trata do direito à vida. E por se fosse pouco o terror e a falta de protecçom, há que reconstruir-se, porque a violência sistemática rompe, destrue a autoestima, a capacidade de reflexom, a capacidade de decidir, a capacidade de amar e ilusionar-se.

Outra prova do desconhecemento real que existe sobre esta realidade consistiria em perguntar às pessoas que tenhem responsabilidades ou militança activa nas organizaçons de esquerdas, e polo tanto supostamente interessadas numha sociedade igualitária e justa, sobre as causas da violência de género e as medidas para supera-la. Falamos só das organizaçons progresistas, porque as conservadoras, botando mao à orelha, diriam simplesmente " violência de...?", e toda a elite do PP, mulheres incluidas, fecham filas detrás da velha consigna "Família, Pátria, Município e Sindicato" (cámbiesse o de sindicato por partido e nem pensar no adjectivo de galega!) ante sucessos como o do escote, as declaraçons de Cascos ou às críticas às medidas que vam aprovar em Março contra da violência de género.

E a prova de lume da importáncia que as administraçons dam a este tema passa polo dinheiro. Quando se fala das autovias fala-se em miles de milhons; quando se fala de quota láctea e mesmo de supertasas, concretam-se as cifras. Pois bem, as mulheres nom estamos recolhidas nos investimentos, polo tanto, qualquer iniciativa, medida ou programa que se aprove sem colocar os correspondentes zeros, nom passa de mera declaraçom de intençons, acçons isoladas e polo tanto inúteis, ante um fenómeno social cumhas causas estructurais profundas e com expressons em todos os ámbitos sociais. Ainda bem que as mulheres caminhamos!

Ferrol, Fevereiro de 1998

Assinado.-
Lupe Cês Rioboo
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