quinta-feira, 13 de julho de 2000

Gran Hermano

A produtora Zeppelin, junto com Telecinco, som as primeiras sorprendidas do suceso que o programa de televissom “Gran Hermano”, está tendo tanto em número de pessoas que o siguem, como a influência noutros meios ou, mesmo, à hora de marcar modas. Som as primeiras sorprendidas, e também as primeiras beneficiadas polas ganhancias que este programa, e todo o que o rodea, está gerando.

Nom imos neste Deliberadamente fazer umha análise da televissom, da qualidade das programaçons, ou, a serviço de quem estám. Tampouco das possibilidades que poderiam ter de comunicaçom, dinamizaçom cultural, informaçom... Nom imos entrar nas críticas a este programa, verssom moderna da realidade que no seu dia mostrou o filme “Dançai malditos dançai”. Simplesmente queremos sinalar a presença constante, opressiva, que o patriarcado tivo e tem desde o começo deste programa.

Alguém pode pensar que esta presença nem é mais, nem é menos, que a que tem em muitos dos programas das distintas televissons. E é certo, mas os milhons de pessoas de audiência, e o feito de estar protagonizado por pessoas que nom som profissionais dos meios, estam-lhe a dar umha dimenssom diferente, de mais calado social, de muita mais influência. Polo de pronto, era de aguardar que se reproducissem no convívio diário, os problemas, esquemas, situaçons e conductas que formam parte das nossas vidas. Assim vimos as preocupaçons dumha mulher por ter que asumir em solitário a responsabilidade de duas crianças depois dumha separaçom; vimos como se segue a pensar que o matrimónio é a soluçom para os problemas das mulheres, “ casarei-me com ela” berrava um concursante; observamos como se reproduzem as eternas discussons polo distinto nível de asunçom do trabalho doméstico,totalmente desvalorizado e ridiculizado; conhecimos que ainda há mulheres-nenas que casam e tenhem a primeira crança com quince anos, e mesmo vimos escenas de acoso sexual. Mas é a prostituiçom, a través do papel que jogou e joga no programa, a que reflicte a face mais descarnada e agressora do patriarcado entrando e reproduzindo-se nas casas, nas empresas, nos quiosques e, em definitiva nas mentes de milhons de pessoas.

Por se alguém ficou fora da influência deste programa, explicaremos que duas concursantes, em dous momentos diferentes do programa, som “denunciadas” públicamente pola revista Interviu de egercer a prostituiçom. A conhecida revista que leva tantos anos prostituindo-nos, agredindo a nossa imagem e perpetuando o machismo em todos os seus números, atreve-se a indagar e publicar a sua vida sem valorar os custes pessoais, familiares e sociais que tem para as mulheres o mundo da prostituiçom. Neste caso, como noutros, só se valorou as ganháncias que o “morbo” poderia traer à editora. É simplesmente dolorosso ver como diante de 16 milhons de pessoas, estas mulheres pedem perdom polo seu passado, tenhem que admitir que foi um “erro” nas suas vidas e devem sentir vergonha diante dumha maioria social que vive de costas à realidade da prostituiçom, mantendo a actitude hipócrita e patriarcal de criminalizar, estigmatizar à prostituta e nom tocar, nem nomear aos usuários, beneficiários e perpetuadores desta escravitude sexual.

Mais umha vez vemos como o patriarcado acomoda-se nos despachos de direcçom, nas canetas das equipas de guionistas, está como um “gran hermano” pendente de perpetuar-se, de adaptar-se aos novos ventos tecnológicos, às modas... para reproduzir a forma mais arcaica de dominaçom.

13.07.2000
Lupe Ces
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