sexta-feira, 14 de agosto de 1998

Entrevista con Mauricio Castro - Agosto de 1998

"O galego precisa dumha urgente acçom de massas na sua defesa"

Numha das tardes mais calorosas deste mês de Agosto citamo-nos com Maurício Castro Lôpez. Este jovem ferrolano é autor dum Manual de Iniciaçom à Língua Galega que leva na rua dous meses escassos. A cidade de Ferrol apresenta o índice mais baixo quanto à utilizaçom da Língua na gente nova. A publicaçom deste manual vem demonstrar mais umha vez que,dentro desta cidade supostamente tam espanholizada, existe umha outra que tem mui claro de que país fai parte.

Maurício tem 28 anos e tivo que finalizar em Compostela os estudos começados na Corunha para obter a licenciatura em Filologia Galego-Portuguesa. Daquela Meilán Gil, reitor da Universidade corunhesa, decidiu suprimir dita especialidade do seu campus.

Nom foi na Universidade precisamente onde me acheguei ao galego e concretamente ao reintegracionismo. Muitas pessoas nom acreditarám, mas fôrom as pintadas que olhava pola rua junto das relaçons que mantinha na minha época de liceu o que me levou à utilizaçom do galego e automaticamente ao reintegracionismo.

Na contracapa do teu livro falas de que está pensado para pessoas que partem já de umha consciência favorável à lingua.

No mercado há muitos livros especializados e para especialistas. Na norma reintegracionista nom existia nada que a popularizasse. Eu o que figem foi dar ao que existia, umha nova forma, asequível e juvenil. Nom só no formato.A gente nova é a que mais se achega ao reitegracionismo. A saída que está a ter o Manual, sem estar ainda em distribuiçom, demonstra que a focagem juvenil que lhe demos funciona.

Em cinco dos oito temas em que divides o Manual há um capítulo dedicado à Sociolingüística.

Acho que é fundamental. De facto, estou certo de que umha das carências que temos no nacionalismo é o dum estudo rigorosso sobre a teoria social das línguas. Valorizo alguns estudos feitos até agora como pouco científicos. Por exemplo, segue-se a avaliar o número de falantes com o mesmo esquema que o fai o poder. Para o nacionalismo deveria ter a chave esse menos de 10% de mocidade que fala galego nas cidades. O que importa nom é o idioma que falam os nossos avôs e avoas. Para mim é mais importante o que fala a mocidade, que é o futuro.

Nom estás a ser mui crítico, mesmo pesimista, coa situaçom da língua? Ademais existem movimentos organizados que tenhem como objectivo a normalizaçom lingüística.

Nas análises que se fam sempre se cai no voluntarismo como soluçom. Há que elaborar um corpus teórico sobre o que agir. Temos que planificar como recuperar a língua. Há que dar passos palpáveis pola normalizaçom. O trabalho das organizaçons de defesa da língua é a olhos vistos insuficiente. Actuam com sinceridade e abnegaçom, mas só a força social junto coa planificaçom lograrám passos qualitativos. Quê é o que temos agora? Nem a lei se fai cumprir. Todo isto deveria fazer-nos reflectir.

Desde as instituiçons avalia-se positivamente a utilizaçom do galego em campos aos que nom chegava e mesmo se fala dum aumento no conhecimento da língua entre a populaçom em geral.

A minha visom nom vem dada por umha postura pesimista senom por umha análise objectiva, com os dados na mam da situaçom da língua. Acredito que caminhamos à reduçom do Galego como língua limitada à transmissom cultural, e para isso dumha cultura académica e subsidiária. Aumenta o conhecimento, mas o declínio na utilizaçom entre a gente nova de cidades e vilas é alarmante. O conjunto do nacionalismo, nas suas distintas variantes políticas, deve esforçar-se por fazer um diagnóstico certo da situaçom e a partir de aí ver os passos a dar.

Desde umha postura reintegracionista parece contraditório falar de unidade dentro do nacionalismo pola defesa da língua. Alguns sectores nacionalistas valoram o reintegracionismo como um factor de debilitaçom e ataque do galego e identificado só com o independentismo.

O reintegracionismo é umha ferramenta mais para a normalizaçom. Quando o conjunto do nacionalismo se convença da necessidade do reintegracionismo terá-se dado um salto qualitativo na situaçom da Galiza. O reintegracionismo lingüístico favorece a auto-estima, rompe com a ideia dumha língua subsidiária do espanhol. Abre-nos as portas a um mundo lingüístico mui amplo, com múltiplas possibilidades nos campos editorial, multimédia... em todos os aspectos das relaçons internacionais. Temos que ter presente que estamos falando dumha comunidade lingüística de muitos milhons de pessoas. A gente que vem de fóra, com um pouco de objectividade, vê-o claramente. Nós parece que seguimos a ver polos olhos dos espanhóis, com um índice muito elevado de colonizaçom.

Mesmo dentro do reintegracionismo existem diferenças...

Se te estás a referir às duas normativas, acho que tanto o padrom galego de AGAL como o português servem para representar gráficamente o galego. Mas utilizo a norma galega e vejo-lhe vantagens para a nossa realidade nacional. Permite que a gente se identifique com o galego como variante nossa dentro do mundo amplo da lusofonia. Mantém as particularidades da Galiza como fai o brasileiro e o português. Tem a virtualidade de fazer ver em Portugal, que nom é que nós queiramos assumir a sua língua como própria, senom que som duas variantes da mesma língua. Isso resulta essencial para umha naçom como Galiza e mui pedagógico para o nosso vizinho Portugal.

Aponta logo alguns dos passos que segundo o teu critério deveria dar o nosso país,nomeadamente o nacionalismo, em todas as suas variantes, como representante mais claro da sua vontade de ser, para a normalizaçom da língua.

A língua nom está a ser o centro do discurso e a prática nacionalista. Nom é prioritária. A sociedade galega e o nacionalismo concretamente, nom estamos à altura das necessidades que tem o idioma. Há umha relaxaçom na militáncia a respeito do monolingüismo. Nom se exige o uso do idioma nas relaçons com outras instáncias ou no próprio trabalho social. Olha, um dado significativo é comprovar de umha parte, a escassa galeguizaçom do ensino, e de outra, que o sector social que representa hoje o nacionalismo segue enviando à essa escola espanholizada as suas crianças sem fazer um mínimo de pressom. O galego precisa dumha urgente acçom de masas na sua defesa. Para isso é necessária umha confluência de todos os sectores políticos, sociais, culturais, desportivos... E isso nom o pode conseguir um só partido nem umha só frente. É precisa da presença do reintegracionismo, nom dum jeito testemunhal senom prático. Penso que essa falta de visom global do país, e a aposta única por umha saída partidária e institucional está impossibilitando, por exemplo, a existência de meios de comunicaçom próprios como um jornal diário. Tendo em conta a massa social que há hoje detrás do nacionalismo deveria ser possível a sua existência, mas seguimos limitando-nos a simples órgaos de expressom.

Apontas umha mudança de rumo que precisaria mais dum golpe de leme.

É muito mais preocupante constatar como se fala dum achegamento a Portugal sem fazer o próprio em política lingüística, mantendo e mesmo potenciando editoras que passando por galegas nom som mais do que filiais de empresas espanholas, correias de trasmissom da ideologia dominante a respeito da língua. Umha mostra dessa visom do galego como algo pintoresco e regional é o papel de mera traduçom que muitas das vezes cumprem estas editoras. Num livro de exercícios de língua editado recentemente, exercício referido ao futebol aparecia ilustrado por umha fotografia dum jogador da selecçom espanhola.

Essa é a razom pola que o teu Manual está editado pola Fundaçom Artábria?

Nom podes esquecer a censura inquisitiva da maioria das editoras na Galiza, que é um facto objectivo a respeito do reintegracionismo. A Fundaçom Artábria é umha experiência inovadora em Ferrol. No fundamental trata de agrupar diferentes sectores sociais, oferecendo infraestruturas e possibilitando um trabalho em comum tendo como eixo fundamental,entre outros, a defesa e normalizaçom da língua nesta cidade. É por isso que quando me oferecêrom a possibilidade de editar o meu Manual nom duvidei.

Sabemos que a finais deste mês de Agosto nascerá a tua primeira filha.Quê futuro desejarias a respeito da língua para a pequena Antela?

Aspiro a que poda ter um pequeno círculo infantil no que poida falar a sua língua com outras crianças, o que, em Ferrol é umha autêntica utopia.

Lupe Cês
14-8-98 Ferrol


Entrevista a Mauricio Castro López. Presidente da Fundaçom Artábria.
Publicada em A Nosa Terra. Agosto de 1998.

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